Bukele transformou El Salvador mesmo antes de ter maioria no Congresso

Publicado em 22 de abril de 2025 às 19:47

Presidente de El Salvador desautorizou a Suprema Corte publicamente e abriu maior iniciativa de combate ao crime da história de seu país

Presidente de El Salvador adotou política de tolerância zero com o crime organizado e varreu ideologia de gênero de seu país.

 

Quando Nayib Bukele assumiu a presidência de El Salvador em 1º de junho de 2019, ele enfrentava um desafio monumental: governar um país marcado por décadas de violência, corrupção e polarização política, sem o respaldo de um Congresso controlado por seus adversários.

Até as eleições legislativas de 28 de fevereiro de 2021, quando seu partido Nuevas Ideas e aliados conquistaram 56 das 84 cadeiras, Bukele lidou com uma Assembleia Legislativa dominada pelos partidos tradicionais ARENA (direita) e FMLN (esquerda), que frequentemente bloqueavam suas iniciativas.

Mesmo assim, ele conseguiu implementar mudanças significativas, lançar projetos ambiciosos e construir uma base de apoio popular impressionante, tudo isso sem o suporte parlamentar.

Um dos momentos mais emblemáticos desse período foi quando, em 9 de fevereiro de 2020, ele levou militares ao Congresso como tática para pressionar os parlamentares.

Este artigo explora como Bukele, com determinação e estratégias não convencionais, deixou sua marca antes de ter a maioria legislativa.

O Início: Plano de Controle Territorial contra as gangues

Logo após tomar posse, Bukele lançou o Plano de Controle Territorial em 20 de junho de 2019, uma estratégia ousada para enfrentar as gangues que aterrorizavam El Salvador, como a MS-13 e o Barrio 18.

Sem o financiamento completo do Congresso, ele realocou recursos do Executivo para aumentar a presença policial e militar em áreas críticas. 

iniciativa começou a dar frutos: a taxa de homicídios caiu de 38 por 100 mil habitantes em 2019 para cerca de 20 por 100 mil em 2020.

Esse sucesso inicial, alcançado por decretos executivos, demonstrou sua capacidade de agir em um ambiente hostil, sem depender do aval legislativo.

Criminosos de El Salvador perderam espaço com a chegada de Bukele ao poder. Secretaria de Imprensa da Presidência de El Salvador/Reuters

Limpeza do funcionalismo público

Apenas uma semana após assumir, em 6 de junho de 2019, Bukele demitiu cerca de 400 funcionários públicos via Twitter, acusando-os de nepotismo ou ligações com a FMLN, partido que o expulsara em 2017.

Sem precisar de aval legislativo, ele transformou essa ação em um símbolo de sua luta contra a corrupção e o "sistema antigo".

Apesar das críticas por falta de processo legal, a medida reforçou sua narrativa de renovação, provando que ele podia agir unilateralmente para cumprir promessas de campanha.

Enfrentando a Suprema Corte sem apoio do Congresso

Antes de controlar a Assembleia Legislativa, Bukele enfrentou a Suprema Corte principalmente por meio de retórica agressiva, desobediência pública e pressão política, já que não tinha poder para alterar sua composição.

A Sala Constitucional, composta por cinco juízes independentes, frequentemente declarava inconstitucionais os decretos executivos de Bukele, argumentando que violavam direitos fundamentais garantidos pela Constituição de El Salvador.

Em vez de acatar essas decisões, Bukele as ignorava, desafiava publicamente ou justificava sua desobediência com apelos à segurança pública e ao apoio popular.

Essa abordagem não apenas minou a autoridade da Corte, mas também reforçou sua imagem de líder disposto a priorizar resultados práticos sobre normas institucionais.

Em 2020, a Corte ordenou a libertação de indivíduos detidos sem acusações formais em operações relacionadas ao Plano de Controle Territorial.

Bukele, em alguns casos, atrasou ou ignorou essas ordens, com suas forças de segurança mantendo suspeitos presos, conforme denúncias de ONGs locais.

Infraestrutura e comunicação

Sem controle do Congresso, Bukele apostou em projetos de impacto visual para ganhar apoio.

Inspirado em sua gestão como prefeito de San Salvador (2015-2018), onde revitalizou o centro histórico, ele promoveu obras públicas menores e entregou laptops a estudantes em 2019-2020, como parte de um programa educacional inicial.

Tudo isso foi amplificado por uma comunicação agressiva nas redes sociais, especialmente no X (antigo Twitter), onde ele contornava o bloqueio legislativo e falava diretamente ao povo, construindo uma imagem de eficiência sem depender de leis aprovadas.

Rompendo com a velha política

Bukele governou inicialmente com o partido GANA, já que o Nuevas Ideas não estava registrado para as eleições de 2019.

Ele usou o descontentamento popular com ARENA e FMLN, que controlavam o Congresso, para se posicionar como um "outsider".

Sem maioria parlamentar, ele recorreu a atos simbólicos e pressão pública para avançar sua agenda, desafiando a estrutura política que dominava o país desde o fim da guerra civil em 1992.

Nayib Bukele e o presidente argentino Javier Milei têm promovido mudanças profundas em seus países. FOTO NA: DAMIAN DOPACIO

Um legado construído contra o sistema

Entre 2019 e 2021, Bukele enfrentou um Congresso que bloqueava financiamentos cruciais, como o do Plano de Controle Territorial, e questionava a legalidade de suas ações.

Ainda assim, ele reduziu a violência, enfrentou a pandemia e construiu as bases de sua imensa popularidade — tudo isso sem apoio do Legislativo.

O confronto de 9 de fevereiro de 2020, quando levou militares ao Congresso como tática para pressionar os parlamentares, foi o ápice de sua abordagem combativa.

Ele conseguiu isso por meio de estratégias cuidadosamente planejadas, que contornaram a falta de apoio legislativo:

 

Decretos executivos: utilizou poderes constitucionais para emitir decretos em emergências, como as quarentenas da pandemia e a implementação inicial do Plano de Controle Territorial, sem necessidade de aprovação legislativa.

Mobilização popular via redes sociais: usou o Twitter para comunicar diretamente com os cidadãos, convocar protestos e legitimar suas ações como reflexo da "vontade do povo", neutralizando a oposição parlamentar.

Pressão direta: aplicou táticas de intimidação, como o "9F" de 2020, quando levou militares ao Congresso, e incentivou manifestações públicas para pressionar deputados a cederem.

Reorganização de recursos: realocou verbas existentes no orçamento do Executivo para financiar prioridades, como a primeira fase do Plano de Controle Territorial, contornando a falta de novos financiamentos do Congresso.

Exploração da fraqueza da oposição: capitalizou a impopularidade de ARENA e FMLN, enfraquecendo a legitimidade do Congresso e criando espaço para ações unilaterais.

Após a vitória de 2021, ele ganhou o poder para aprofundar suas reformas, mas foi nesse período inicial, sem o Congresso ao seu lado, que Bukele provou ser um líder capaz de transformar El Salvador com determinação, criatividade e um apelo direto ao povo.

Adicionar comentário

Comentários

Cícero
2 dias atrás

"Em vez de acatar essas decisões, Bukele as ignorava"
Isso me fez lembrar do Ramagem.