Entidade critica o avanço de veículos conservadores e propõe censura com nome de "regulamentação"

Em carta divulgada ao fim da 3ª Semana Nacional de Jornalismo, realizada entre 7 e 11 de abril, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) declarou apoio à regulação das big techs e à obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo.
Apesar de mencionar a defesa da democracia, o texto sinaliza o oposto: ataques à liberdade de expressão.
A entidade afirma que as redes sociais se tornaram ambientes dominados por corporações tecnológicas que permitiriam a circulação de “conteúdos ilegais”.
Defende, por isso, mecanismos legais para restringir publicações — sem esclarecer, no entanto, quem definiria o que deve ou não ser permitido.
Mas o trecho mais preocupante da carta não é sobre regulação de plataformas, e sim sobre a própria profissão.
A ABI atribui o enfraquecimento da imprensa tradicional ao surgimento de veículos conservadores, que teriam se aproveitado do espaço aberto pelas redes sociais.
Para a entidade, a simples presença de jornalistas conservadores no debate público é tratada como um “problema”.
A declaração escancara a contradição de uma associação que diz defender a pluralidade, mas rejeita vozes que não seguem a cartilha ideológica dominante.
Ao tratar profissionais conservadores como ameaças a serem contidas, a ABI ignora que o jornalismo, por definição, deve comportar visões diversas — inclusive dentro da própria categoria.
A tentativa de desacreditar o surgimento de novos atores no ecossistema informacional revela mais do que incômodo com a concorrência: expõe o desejo de preservar o monopólio narrativo de uma elite alinhada.
A mensagem implícita é clara: só é jornalismo o que se encaixa nos moldes acadêmicos progressistas.
Se a ABI realmente estivesse preocupada com a democracia, celebraria o aparecimento de novas vozes — inclusive dissonantes.
Em vez disso, propõe filtros, controle estatal e exclusões.
Não há defesa de liberdade possível quando se tenta silenciar quem pensa diferente.
Confira a nota na íntegra:
“Fiel ao histórico compromisso da centenária Associação Brasileira de Imprensa com a luta em defesa da democracia, da liberdade de imprensa e de expressão e dos direitos humanos, a 3ª Semana Nacional de Jornalismo ABI, realizada pela Comissão de Educação, de 7 a 11 de abril, em Curitiba, Fortaleza, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, sob a coordenação de Vitor Iório e com apoio de universidades e entidades representativas da sociedade civil, fez um mergulho sobre Os Rumos da Comunicação, identificando os problemas e ameaças atuais ao jornalismo, à comunicação, à liberdade de imprensa e de expressão e à democracia, e apontou os caminhos para superar esses obstáculos.
“Os debates sobre a defesa da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão, os desertos de notícias, a regulamentação das bigtechs e o combate às fake news, o papel do jornalismo na batalha de ideias e a importância do jornalismo comunitário podem ser sintetizados numa frase: “Sem jornalismo não há democracia. O jornalismo é, ele próprio, um direito. Quando ele se ausenta, a democracia deixa de existir.
“Esse é o nosso maior compromisso.
“A 3ª Semana Nacional de Jornalismo reafirmou a disposição de continuar lutando pela valorização do jornalismo, de seu papel social e de sua formação profissional, como atividade essencial ao interesse público e à democracia no Brasil. E pela defesa da aprovação urgente da Proposta de Emenda à Constituição 206/2012, a PEC do Diploma.
“Defender a exigência do diploma é reconhecer o papel dos jornalistas na construção de uma sociedade mais justa, plural, democrática e comprometida com os direitos humanos e que o jornalismo deve ser praticado com seriedade, rigor, responsabilidade, ética, compromisso com a verdade e respeito pela diversidade de pontos de vista.
“As regiões com pouca ou nenhuma cobertura jornalística – os chamados desertos de notícias, e a importância da produção de conteúdo informativo local como ferramenta para a garantia do direito à comunicação são outros desafios a serem enfrentados. Esses territórios se tornam ambientes propícios à desinformação e à disseminação de notícias falsas, com impactos diretos na vida das pessoas. O deserto de notícias é um campo fértil para a indústria criminosa das fake news.
“A 3ª Semana Nacional de Jornalismo reforçou o nosso compromisso com a luta pela regulamentação das bigtechs e o combate às fake news. O controle social dos meios de comunicação é um exercício de cidadania.
“Apesar da importância das redes sociais e das plataformas digitais para a difusão de cultura e conhecimento, seus efeitos colaterais danosos devem ser combatidos e corrigidos.
“A 3ª Semana Nacional de Jornalismo reforçou que é preciso exigir responsabilidade das plataformas digitais, ainda mais com a monetização e o impulsionamento. Não é razoável que alguém fature com o discurso de ódio e com conteúdos que possam causar danos e crimes e nada aconteça. O que era uma oportunidade de democratizar a comunicação e dar voz às pessoas acabou se tornando uma armadilha. Nossa vida passou a ser vivida dentro dos espaços que são controlados pelas bigtechs.
“Não podemos permitir a veiculação de conteúdo ilegal. É preciso criar obrigações e salvaguardas para reduzir os danos provocados pelas plataformas digitais e as bigtechs, que devem ser responsabilizadas pelos conteúdos que divulgam. A regulação das bigtechs e plataformas digitais é uma tarefa democrática. Sem ela, nós teremos incompleta a democracia no Brasil. É uma tarefa civilizatória.
“A 3ª Semana Nacional de Jornalismo alertou que a transformação dos meios de comunicação em verdadeiros “partidos políticos”, alinhados com os setores mais conservadores da sociedade, é mais um desafio que deve ser enfrentado. O enfraquecimento das grandes empresas tradicionais enfatiza a necessidade da existência de um jornalismo comunitário, popular e independente. O declínio dessas empresas refletiu no quase desaparecimento das reportagens e esse espaço foi ocupado nas redes sociais pela “extrema direita”. Ou a gente se aproxima da vida real do povo, ou a gente já perdeu a batalha de ideias.
“A Casa política do jornalista brasileiro identificou na 3ª Nacional de Jornalismo uma perspectiva sombria da comunicação no Brasil, dominada pela mídia comercial e ameaçada pelas plataformas digitais, as bigtechs e os influencers, que impedem a divulgação da verdade, apontou saídas e caminhos para a superação desses obstáculos e vislumbrou um porvir: o fortalecimento da comunicação e dos comunicadores comunitários e populares.
“A 3ª Semana Nacional de Jornalismo apontou que se existe uma saída hoje para a comunicação no Brasil, ela passa pelos comunicadores populares, um dos movimentos mais importantes do Brasil atual. Os comunicadores populares se identificam com a informação que estão passando e têm a noção exata da sua responsabilidade política e social.
“Em defesa do jornalismo, Democracia Sempre!
“Rio de Janeiro, 11 de abril de 2025
“3ª SEMANA NACIONAL DE JORNALISMO ABI”.
Adicionar comentário
Comentários