Como lutar por anistia mantendo no poder quem a bloqueia?

Publicado em 18 de março de 2025 às 18:46

A anistia só se torna viável quando há democracia plena e respeito ao rito institucional; é o caso do Brasil?

Foto: Gabriela Biló/Folhapress - Reprodução

 

Como lutar por anistia sabendo que o STF a barraria logo de cara? Talvez o foco não devesse ser apenas a libertação dos presos do 8 de janeiro, mas sim entender e enfrentar os responsáveis por um sistema que parece ter deixado a democracia para trás.

Vamos direto ao ponto. Vou dizer aqui o que poucos querem falar e menos ainda estão dispostos a ouvir, por razões óbvias: é desconfortável, confunde, e pode até desanimar atos políticos que não vão na raiz do problema.

Por mais que doa, o choque de realidade pode fazer mais pelos presos políticos do que caminhadas vazias de efetividade.

Esse pesadelo autoritário brasileiro tem data de nascimento: novembro de 2019.

Em 2025, a criatura completa 6 anos — um monstrinho mimado que adora dar tapas na cara de quem ousa abrir a boca. Seis anos de arrogância, de canetadas que mandam calar e de um poder que ri da nossa cara. 

Nas últimas semanas, a bandeira da "anistia já" ganhou força, impulsionada por Jair Bolsonaro. O ex-presidente trocou as manifestações pelo impeachment de Lula por um grande ato em Copacabana, unindo seus apoiadores em torno de um único justo pedido: liberdade para os presos do 8 de janeiro.

O problema é que a conta não fecha. A lógica se impõe ao clamor por justiça, por mais urgente que ele seja: como brigar por anistia sem antes desmobilizar aqueles que podem derrubá-la? Vamos aos fatos?

Manifestante segura placa pedindo por anistia aos presos do 8 de Janeiro, durante ato em Copacabana (RJ). Foto: Poder 360

 

  • Davi Alcolumbre já enterrou a pauta
    O presidente do Senado deixou claro que o projeto de anistia não verá a luz do dia. Ele chegou a dizer que essa não é uma "demanda do povo brasileiro". Traduzindo: mesmo que o PL tenha apoio majoritário entre os senadores, sem ir a votação, é letra morta.
  • Afinal, estamos em uma democracia?
    Parece óbvio, mas vale repetir: o Brasil não vive uma democracia de verdade. Suponhamos que, por um milagre, Alcolumbre e Hugo Motta resolvam pautar o projeto e, por outro milagre, ele seja aprovado no Congresso. O que acontece depois?

     

    Eles têm um talento especial pra derrubar o que não gostam, sempre com um “inconstitucional” na manga.

    Não é chute, é padrão: qualquer coisa que ameace o controle deles leva um carimbo e vai pro arquivo morto.

    Gilmar Mendes, o decano que nunca sai de cena, já avisou dia 19 de março de 2025, pra Exame: anistiar “golpistas” é “incogitável”.

    E ele fala por uma corte que não hesita em dobrar as regras pro lado que convém. Pensa nas prisões do 8 de janeiro: julgamentos corridos, decisões que parecem mais revanche que justiça.

    Ou nas leis do Congresso que eles vetam só porque podem. O STF não é só um obstáculo, é o dono do tabuleiro — e enquanto eles mandarem, a anistia é só um papel rabiscado sem valor.

Por isso, vale a reflexão: insistir na anistia sem mudar o que está por trás dela é como tentar apagar um incêndio com um copo d’água. Lula e os ministros do STF que sustentam esse modelo — com decisões que moldam o país de cima para baixo — são peças-chave dessa engrenagem.

Sem enfrentar essa estrutura, sem buscar formas de tirá-los do caminho, qualquer esforço corre o risco de ser apenas simbólico.


Adicionar comentário

Comentários

Luiz Almeida
um mês atrás

Falou tudo. Só uma guerra civil para expulsar essa quadrilha do poder.